Vale a pena gastar dinheiro com um Projeto de Prevenção contra Incêndio e Pânico?
Quando pensamos em Prevenção ou combate a Incêndio e Pânico, há duas imagens recorrentes relacionadas ao assunto. A mais recente é a imagem do Museu Nacional na Quinta da Boa Vista em chamas e a outra, por muitos já esquecida, é o incêndio na Boate Kiss em Santa Maria. No primeiro caso queimamos nosso passado, em virtude das perdas inestimáveis de itens históricos que foram destruídos. No segundo caso, queimamos nosso futuro, em virtude do grande número de jovens, que perderam a vida na ocasião.
Talvez a única forma de evitar queimar nosso passado e nosso futuro seja atuar no presente com instrução e esclarecimentos, sobre como evitar um incêndio de grandes proporções.
As medidas de proteção contra incêndios podem ser passivas (elaboradas durante a concepção do projeto arquitetônico) ou ativas (elementos do SPCI – Sistema de Proteção Contra Incêndios – que são acionados em caso de ocorrência de incêndio).
É claro que o objetivo é evitar a ocorrência do incêndio e certamente é mais sábio investir em prevenção – MEDIDAS PASSIVAS (medidas para evitar o incêndio) do que em mitigação – MEDIDAS ATIVAS (medidas de combate ao incêndio ou reparação dos danos causados).
Um PPCI – Projeto de Prevenção Contra Incêndio – bem elaborado deve ter sua concepção desenvolvida em conjunto com o projeto arquitetônico da edificação, quando é possível avaliar as opções adotadas para a construção avaliando se as condições relacionadas com proteção contra incêndio estão garantidas. Submeter o projeto depois de pronto ao Corpo de Bombeiros para aprovação pode significar uma grande perda de tempo com correções para atender a legislação de prevenção contra incêndios. De qualquer forma um SPCI bem elaborado custa em torno de 3% do custo da obra e está muito longe do prejuízo que um incêndio de grandes proporções pode causar. O PPCI deve contemplar medidas de prevenção passivas e ativas:
Medidas de Proteção Passivas:
Há diversas medidas de proteção passivas que podem ser tomadas para a prevenção de incêndios. O objetivo é prevenir a ocorrência de incêndio e caso este aconteça, descrever medidas que buscam a evacuação rápida e segura dos ocupantes da edificação.
Logicamente é a maneia mais inteligente e coerente de tratar do assunto.
Na sequência, serão listadas e analisadas brevemente as diversas opções de Medidas Preventivas de Combate a Incêndio.
- Isolamento do Risco:
- Compartimentação vertical e horizontal:
Onde verifica-se o afastamento seguro para prevenir propagação de incêndio entre edificações e sua Segurança Estrutural para prevenção de seu colapso em caso de incêndio.
Os recursos de compartimentação servem para impedir a propagação do incêndio no pavimento de origem para outros ambientes no plano horizontal (compartimentação horizontal) ou para impedir a propagação de incêndio no sentido vertical (compartimentação vertical).
Fonte: IT-07 – Separação entre edificações – CBMESP
- Resistência ao fogo da estrutura das edificações:
A resistência ao fogo da estrutura das edificações prevê uma avaliação do tempo mínimo de resistência da estrutura da edificação para permitir a saída segura de seus ocupantes.
- Revestimentos utilizados
Revestimentos utilizados prevê uma avaliação da inflamabilidade dos materiais empregados.
2. Definição da Classe de ocupação da Edificação e Classe de Risco; Cálculo da população e Dimensionamento de Saídas de Emergência:
Informações obtidas a partir da legislação aplicável. A principal Norma é a NBR-9077/2001.
A Norma traz diversas tabelas de aplicação imediata:
Tabela 1: Classificação das edificações quanto à sua ocupação.
Tabela 2: Classificação das edificações quanto à sua altura
Tabela 3: Classificação das edificações quanto à sua dimensão em planta
Tabela 4: Classificação das edificações quanto à suas características construtivas
Tabela 5: Dados para dimensionamento das saídas
Dessa forma, conforme a natureza da edificação, sua natureza e a graduação dos riscos apresentados, procede-se a elaboração do PPCI que atenda às necessidades da edificação.
3. Especificação do material de revestimento
O Controle de materiais de revestimento e acabamento visa estabelecer parâmetros para avaliação dos diversos tipos de revestimentos aplicados nas construções e relacioná-los conforme seu comportamento como fontes geradoras de incêndio e fumaça.
As Normas pertinentes aplicáveis são:
NBR-8660: Revestimento de piso – Determinação da densidade crítica de fluxo de energia térmica – Método de ensaio.
NBR-9442: Materiais de construção – Determinação do índice de propagação superficial de chama pelo método do painel radiante – Método de Ensaio.
4. Saídas de emergência
As saídas de emergência também fazem parte de um SPCI e devem estar definidas em projeto. Trata-se da rota segura de escape dos ocupantes de uma edificação até a via pública, em caso de incêndio. A NBR-9077/2001, trata do assunto e ela define e fornece os parâmetros para delimitação das rotas de fuga. Deve estar definido em projeto a quantidade e as larguras das rotas de fuga, distâncias máximas a serem percorridas em caso de incêndio, definição do tipo de escadas requeridas para a edificação, etc.
5. SPDA – Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas
Para prevenir contra as consequências de descargas atmosféricas que podem, dentre outras coisas, provocar incêndios. A NBR-5.419/2005, define as regras e condições em que é necessário a construção de um SPDA.
6. Brigada de Incêndio
Normalmente em grandes corporações e empresas, com o propósito de garantir um combate aos princípios de incêndio que possam ocorrer, é criada uma brigada voluntária de combate a incêndio, composta por alguns funcionários treinados e capacitados em combate ao fogo, em noções de primeiros socorros e técnicas de evacuação para atendimento à população local em caso de incêndio e para prevenir o alastramento do fogo e evitar pânico. Esse grupamento pode ser terceirizado já que existem empresas que fornecem funcionários capacitados para atuar como brigadistas civis. A Norma que define as regras para formação e capacitação da brigada de incêndio é a NBR-14.276/2006
7. Separação entre edifícios
Fonte: IT-07 – Separação entre edificações
Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo
Trata-se de uma medida preventiva que leva em consideração a possibilidade de isolamento do risco provocado por um edifício em chamas de propagar o incêndio por convecção de calor, propagação de gases quentes e transmissão de chama para os prédios vizinhos. Esse processo de determinação de uma distância segura leva em consideração diversas variáveis como a distância entre edificações, a carga de incêndio, existência ou não de compartimentação.
8. Acesso da viatura do Corpo de Bombeiros
Fonte:
IT-06-Acesso de Viatura CBMESP
Definem condições mínimas de acesso para as viaturas de emergência visando o emprego operacional dos recursos de combate a incêndio do Corpo de Bombeiros.
Medidas de Proteção Ativas
- Sistemas de Detecção e Alarme de Incêndio
São Sistemas manuais ou automáticos que detectam a ocorrência de incêndio a partir da detecção de fumaça, do calor gerado pelo fogo ou da radiação luminosa da chama. Os sistemas manuais são compostos de: Central de alarme, Fonte de energia alternativa, Circuito de alarme e acionadores. Nos sistemas automáticos a detecção é feita de forma automática pelos instrumentos do sistema. A Norma de referência é a NBR-17.240/2010
2. Sistemas de Iluminação de Emergência:
Trata-se de sistema de iluminação que funciona independentemente de haver ou não alimentação elétrica na edificação proporcionando condições de visibilidade para evacuação da população no local em
caso de incêndio. A classificação do sistema é em função do tipo de alimentação que será utilizado, podendo ser por sistema moto-gerador; sistema centralizado com acumuladores ou sistema composto de blocos autônomos de luminárias. A Norma que trata desse assunto é a NBR-10.898/2013.
3. Sinalização de Emergência:
As principais finalidades das placas de sinalização são indicar a localização dos equipamentos de combate ao incêndio e orientar as pessoas sobre rotas seguras de evacuação da edificação.
A principal Normas que trata do assunto é a NBR-13.434 – Sinalização de Segurança contra Incêndio.
Através da Norma aplicável é possível definir a quantidade e a melhor localização das placas garantindo visibilidade e localização rápida dos recursos de combate ao incêndio ou a rota de escape mais próxima.
4. Extintores de Incêndio
O SPCI por extintores é utilizado quando a área construída e/ou a altura da edificação não requererem um sistema de maior porte. Em conjunto com a sinalização e iluminação de emergência, os extintores compõe o SPCI de pequenas construções residenciais e comerciais. O agente extintor deve ser transportado até o local do fogo para extinção do incêndio. Os extintores são produzidos com produtos distintos de extinção, conforme a
natureza do material em combustão. No projeto do SPCI com uso de extintores, é executado um desenho em planta do imóvel com o posicionamento dos extintores definindo uma distância máxima a ser percorrida até o seu alcance. Em SPCI de maior porte, os extintores são complementares, visto que a existência de outas formas de SPCI não elimina a necessidade dos extintores. A NBR-12.693/2013 regulamenta o assunto.
Classificação dos extintores de incêndio – Utilização conforme tipo de material combustível
- Classe A: Ocorre em materiais sólidos que deixam resíduos como madeira, papel, papelão, etc.
- Classe B: Ocorre em líquidos inflamáveis e gases combustíveis: como gasolina, nafta, querosene, etc. Normalmente não deixa resíduos.
- Classe C: Ocorre em equipamentos elétricos energizados.
- Classe D: Ocorre em materiais pirofóricos que são os materiais que por sua natureza, podem se inflamar simplesmente quando expostos ao ar como o magnésio, lítio, potássio, etc.
- Classe K: Quando o fogo ocorre em óleos e gorduras acumulados em cozinhas industriais por exemplo.
Forma correta de se utilizar o extintor de incêndio
5. Sistemas de Hidrantes
Trata-se de um conjunto de componentes constituídos basicamente a partir de tubulação rígida de aço e hidrantes distribuídos conforme projeto pela edificação. O sistema funciona a partir de reserva de água exclusiva para combate a incêndio e a pressão necessária pode ser obtida a partir da coluna d`água quando se
utiliza caixa elevada ou com a utilização de uma bomba de recalque quando a reserva está no nível do solo. A tubulação irá alimentar as mangueiras e esguichos, dispostos em caixas de mangueira e distribuídos pelos pavimentos que serão utilizadas para direcionar a água em direção ao fogo. O SPCI com hidrantes permite combater o incêndio com recursos da própria instalação e também oferece um meio para conexão com o caminhão do corpo de bombeiros (hidrante de recalque) em caso de necessidade de recursos adicionais. O dimensionamento do SPCI com hidrantes é feito a partir da Norma NBR 13.714/2000.
6. Sistemas de Chuveiros Automáticos
Para grandes ambientes como shoppings, centros comerciais, galpões e fábricas, e caso seja requerido pela legislação, costuma-se dimensionar sistema preventivo com chuveiros automáticos. Trata-se de canalização fixa de aço que alimenta ramais e sub-ramais que alimentam chuveiros automáticos convenientemente distribuídos pela edificação.
O sistema é acionado automaticamente a partir de sistema de detecção de fumaça ou fogo. É um sistema muito eficiente de combate a incêndio e tem a vantagem adicional de somente impactar a área afetada pelo incêndio visto que somente o bico (ou bicos) da área afetada serão acionados.
A principal Norma utilizada para esse tipo de SPCI é a NBR-10.897/2014 ou a NBR-13.792/1997 para depósitos, galpões e áreas de armazenamento.
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